11 de novembro de 2007

Socialismo "infantil"




Descreverei inicialmente dois fatos recentes, aparentemente sem qualquer relação. Prometo conectá-los até o fim do texto. Curioso?



Fato 1: há alguns dias, meu filho caçula trouxe uma lição de casa que chamou muito minha atenção: a professora de geografia pediu pra baixar uma representação do mapamundi, disponível no site do IBGE, que pode ser montada em 3D. Como não é possível criar uma esfera a partir de um papel plano, fiquei curioso e fui conferir. O IBGE disponibiliza um mapa que pode ser montado como um icosaedro (se você faltou nas aulas de geometria, trata-se de um poliedro de vinte faces triangulares, descrito pela primeira vez pelo filósofo grego Platão). Basta imprimir, recortar e montar; brincadeira de criança!


Como curioso, fui querer saber se tinha, em algum lugar, uma versão maior, de resolução melhor... e descobri que este mapamundi em formato de icosaedro é uma invenção patenteada de um matemático inglês chamado Fuller. Atualmente os direitos da patente estão com a família dele, porque ele já é falecido. E, pasmei, o site do IBGE é o ÚNICO lugar no mundo onde é possível obter este tipo de mapa gratuitamente.


Fato 2: as entidades que congregam empresas de software, como Assespro, Fenainfo e outras, fizeram circular e-mails INDIGNADOS com a notícia de que estava em preparação um acordo entre o Banco do Brasil e o SEBRAE para financiar o desenvolvimento de um software de gestão empresarial (ERP) para pequenas e micro empresas, que seria distribuído gratuitamente pelo SEBRAE em todo o país.


Obviamente, se isto se tornasse real, cerca de metade das empresas nacionais de software viriam desaparecer, do dia pra noite, uma parcela expressiva de seu faturamento.
Houve uma movimentação política das entidades, que gerou uma audiência pública sobre o projeto. A partir dela, SEBRAE e Banco do Brasil prometeram estudar melhor a questão antes de colocar em prática esta iniciativa.


Conexão: tanto IBGE, quanto SEBRAE e Banco do Brasil são órgãos do governo federal, que, sob a justificativa de fazer o 'bem' (seja pras crianças ou para as microempresas), se colocam publicamente numa posição que afeta (ou viola) os direitos autorais (de outrem, claro). Mais uma face perversa da atual administração.




* Publicado originalmente na Information Week de abril de 2006

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