18 de novembro de 2007

Indústria brasileira de software: em extinção?


Como parte da cobertura do mercado de TI desenvolvida pela minha empresa, monitoramos há muitos anos também a indústria brasileira de software. Quem acompanha esta coluna há algum tempo deve lembrar sobre outros textos a respeito das empresas nacionais de software.


Infelizmente, as notícias nessa frente não são nada alentadoras. Na medida em que atualizamos as informações de que dispomos, somos confrontados com um fato que a imprensa em geral ignora: nos últimos dois anos, de cada cinco empresas nacionais desenvolvedoras de software, uma delas deixou de sê-lo: nossa estimativa do número total de empresas em atividade é hoje de 2.700, contra 3.500 há dois anos atrás.


Sabemos que o mercado de TI como um todo passa por um processo de consolidação. Mas nem todas as empresas que deixaram de ser desenvolvedoras encerraram suas atividades. Algumas simplesmente foram compradas por empresas maiores. Mas outras muitas se transformaram em revendas, consultorias e/ou implementadoras de softwares de terceiros (geralmente, empresas globais).


Entretanto, olhando apenas para as empresas que continuam em atividade, também não há notícias muito melhores: o processo de compras e aquisições tem contribuído para a contínua desnacionalização do setor. Um número cada vez maior de empresas está sob o controle de empresas estrangeiras (e nem só do Primeiro Mundo... argentinos, chilenos, colombianos e mexicanos estão fazendo sucesso por aqui).


Outro aspecto que dificulta a vida das 'sobreviventes' é a crescente competição pela atração de pessoal qualificado: na esteira do esforço das multinacionais (com 'apoio' do governo) para a transformação do Brasil numa base de exportação de serviços de offshoring/outsourcing, a contratação de pessoal qualificado por empresas menores torna-se cada vez mais difícil.


Cabe observar que estamos chegando ao fim de mandato de uma administração federal que, ao anunciar sua política industrial há três anos atrás, colocou o setor do software como um dos seus cinco pilares. O que vemos na prática é um processo que, se mantido, culminará na redução da indústria nacional de software a um papel totalmente inexpressivo dentro de mais alguns anos. Acordemos!

* publicado originalmente na InformationWeek de maio de 2006

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